Todo enlutado sabe e sente profundamente o quanto a morte de
alguém significativo, importante e valoroso os afeta e impacta de forma
complexa e ampla; ou seja, o luto não é somente tristeza e choro, é um emaranhado
de pensamentos, sentimentos e emoções que alcançam toda a nossa existência no
mundo, esse a qual tínhamos como seguro e previsível, esse mundo é abalado
fortemente.
Há um esforço imenso para lidar com as situações que seguem
após a morte; o luto envolve esforço físico e psíquico. Entramos em uma busca
incessante de entender tudo que está acontecendo. Buscamos o mínimo de
organização em meio ao caos da desorganização dos pensamentos e da vida,
tentamos entender se o que sentimos é parte disso tudo, ou se estamos
enlouquecendo, duvidamos da realidade e brigamos com Deus, com o universo, com
pessoas da família, pois, nossos nervos estão à "flor da pele”.
O luto é cansativo, nossa energia está diminuída, há uma
exaustão em ter que resolver burocracias e em curto espaço de tempo, como
inventários por exemplo, tantos e tantos ajustes que precisam ser feitos,
trocar a titularidade de inúmeras contas; são tantas coisas, é exaustivo porque
você tem insônia e acorda destruído, cansa porque parece que toda essa dor não
terá fim, e sofrer cansa, a tristeza cansa!
Nos sentimos vulneráveis e ainda assim nos esforçamos para
cumprir uma jornada de trabalho, acredito que em alguns momentos estamos só com
nosso corpo presente, pois, os pensamentos e foco na atividade, a concentração,
estão em suspensão; buscamos adaptação, mas muitas vezes não entendemos que se
trata de um processo, e por isso o luto exige de nós paciência e compaixão.
O luto te deixa muito sensível, tudo ao redor sensibiliza, a
aproximação das pessoas, ou o distanciamento delas nos tornam muitas vezes
julgadores…sim você leu certo, julgadores, quanto te perguntam como você
está?... e lá no fundo você pensa: é óbvio que nada bem não tá vendo? E talvez
você até vá nutrindo raiva e decepção, mas faça uma pausa agora para
pensar… Afinal quem nunca ficou sem saber o que dizer em uma situação dessas?
As pessoas muitas vezes, estão tentando entender esse
processo que é seu, sem nenhuma maldade ou consciência de como algumas falas
podem te magoar. O melhor e mais saudável é você enlutado buscar ser assertivo
em se comunicar. É compreensível que socializar por um período de tempo
pode exigir demais de você, que no momento você só queira silêncio, um lugar
para se recolher, como a onda do mar que recua.
Por isso, se comunique com quem te oferece uma distração, um
colo, um aconchego, uma saída para um café; hoje você pode não estar pronto,
mas fique aberto, pois chegará o dia que você se alegrará que esse alguém pense
em você e te lembre de se movimentar, e te estenda a mão. Não feche
portas porque hoje a dor está imensa, intensa, você encontrará seu ponto de
descanso!
O luto dói, cansa e muito, e para além de tudo que citei até
agora, talvez uma boa parte desse processo, seja o amor tentando se ajustar e
encontrar um lugar diferente, porque antes era um amor dividido, compartilhado
na presença, nas trocas, nos olhares… sem a presença física de quem se ama, é
preciso descobrir o que a morte não levou dessa relação, desse vínculo.
Mantenha-o vivo, tão vivo que no seu coração e na sua vida que segue apesar de,
tornem-se templos de honra desse sagrado amor.
(in memoriam à todos os meus amores que carrego sempre
comigo, onde quer que eu vá…).
Com carinho e amor,
Patrícia dos Santos
(Psicóloga e Tanatóloga - CRP 12/10686)
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